Envelhecer é uma droga, independentemente de ser diante do público ou não.
De volta à Globo na pele da Aurora de “A força do querer”, Elizangela compartilha nesta entrevista sua intimidade com a mãe e a filha, revela por que não aceitou posar nua no passado e abre o jogo sobre seu atual estado civil: “Não vivo com ninguém, mas tenho companhia”, avisa a atriz de 61 anos.
Os tipos populares são uma constante nos seus 52 anos de carreira. Aurora, de “A força do querer”, não foge à regra. Por que acredita ser sempre escalada para interpretar mulheres do povo?
Tenho um jeito carioca de ser, talvez passe por aí. É claro que seria interessante fazer uma mulher chique, mas a atriz que faz a rica, normalmente, é longilínea, não tem quadril largo. São os estereótipos da profissão.
Você é uma mulher do povo?
Sou e não sou. Converso com todo mundo, não tenho saco para frescura, gosto de gente. Mas, por outro lado, sou discreta e reservada. Não divido minha intimidade com todo mundo, jamais vou mostrar, por exemplo, o meu quarto. Não condeno quem o faça, só que o meu jeito não combina com essa exposição.
Foi a sua maneira de ser que a impediu de posar nua?
Com certeza! Quando fui chamada para posar nua (há cerca de 30 anos), pensei na minha filha (Marcelle, atualmente com 42 anos), no porteiro, no homem da banca de jornal. O cachê era muito bom, mas dinheiro nenhum paga a minha intimidade. Minha intimidade não é do mundo.
Há uma preocupação com o julgamento dos outros?
De jeito nenhum! Não me preocupo com o que vão dizer sobre mim, já passei desse estágio há muito tempo. A gente vive melhor quando toma consciência de que não tem que dar satisfação a ninguém. Fica tudo mais leve. É o caminho para o equilíbrio e a felicidade.
Você está sempre sorrindo. O que consegue tirar o seu bom humor?
O que me deixava de mau humor era estar malcasada (risos). Já tive essa fase, mas só até perceber que o mau humor era gerado por uma situação indesejada. É da minha natureza sempre sorrir. Pareço uma hiena, acho graça de tudo.
Está casada atualmente?
Não vivo com ninguém, mas tenho companhia. Não vejo necessidade em estar casada, em ter um homem ao meu lado. Namorado é um complemento para a vida. É bom ter um companheiro, mesmo que não more junto. Mas, se não tiver, não faz mal. Fico muito bem comigo mesma.
Nunca ficou em casa sofrendo de solidão?
Quando me separei, minha filha era pequena e ela ia todos os fins de semana para a casa do pai (o engenheiro Jorge Moreira). Então, eu ia ao cinema sozinha, saía para jantar sozinha, tomava um drinque sozinha.
Em “A força do querer”, Aurora é uma mãe muito presente na vida da filha, Bibi (Juliana Paes). Como você é no papel de mãe?
Sou uma mãe amiga, mas que sempre deu limites. Marcelle não me deu trabalho. Éramos só nós duas, a gente conversava sobre sexo abertamente. Minha criação foi bem diferente. O máximo que minha mãe fez foi me dar um livro sobre o assunto. Não tinha troca. Até contato físico, de abraço, não era usual. Havia um distanciamento. Com o tempo, fui mudando essa história.
Como é hoje a sua relação com a sua mãe?
Falo todos os dias que a amo, a abraço e beijo. Minha mãe vai fazer 93 anos, está morando numa casa de repouso desde o início do ano. Foi uma decisão difícil, mas ela estava rebelde, sem querer comer, emagrecendo muito, perdendo a memória… Ela precisava de atenção integral. Na casa de repouso, aceita se alimentar, faz fisioterapia diariamente, tem acompanhamento de um geriatra. Ela melhorou demais, até começou a fazer pinturas.
Você foi uma jovem rebelde?
Só dei trabalho para a minha mãe quando conheci o pai da minha filha. Ela se assustou porque eu era muito tranquila e, de repente, me apaixonei e saí do eixo. Eu me casei com 18 anos, depois de um ano e três meses de namoro. Com cinco meses de casada, engravidei da minha filha, a coisa mais linda da minha vida.
Na novela das nove, Aurora verá sua única filha, Bibi (Juliana Paes), entrar para o mundo do crime. Como é para um mãe passar por uma situação como essa?
É uma coisa que estraçalha o coração. Toda mãe tem intuição, sexto sentido. Aurora sempre desconfiou desse genro, Rubinho (Emílio Dantas), que sempre se mostrava tão bonzinho, tão apaixonado… Não conheço homem tão perfeito assim, não.
Como é envelhecer diante do público?
Envelhecer é uma droga, independentemente de ser diante do público ou não. Mas não adianta esquentar a cabeça. É um caminho sem volta para todo mundo.
A escolha de trocar o Rio por Teresópolis tem a ver com a chegada da maturidade?
Decidi me mudar há quase três anos, quando o Recreio, onde morava, ficou barulhento, com trânsito pesado. Encontrei uma casa na subida da serra de Teresópolis, onde acordo com os passarinhos, tenho meu lazer, meu conforto.
Qual é o balanço que você faz dos seus mais de 50 anos de carreira artística?
Sou uma sobrevivente, uma vencedora. Criei minha filha sozinha, exercendo a profissão que é uma paixão.