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Afastado do Caso Marielle um dia após prisões, delegado foi pego de surpresa

Suposto mandante, Siciliano acusa família Brazão.

Responsável pelo inquérito do crime mais complexo que a Polícia Civil do Rio já enfrentou, o assassinato da vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes, o titular da Delegacia de Homicídios (DH) da Capital, Giniton Lages, está deixando o caso. Depois de cumprir o que ele chamou de primeira etapa da investigação, com provas técnicas contra os suspeitos de atirar e outro de dirigir o Cobalt prata usado na emboscada, o delegado irá tirar seis meses de férias. No fim do ano passado, Giniton já havia demonstrado cansaço, mas não havia sinais de que sairia antes de achar o mandante do crime e nem de descobrir a motivação. Nos corredores da especializada o comentário é de que o fator decisivo para a sua saída foram as diferenças entre ele e o atual diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), Antônio Ricardo Lima Nunes. Giniton foi surpreendido pela notícia, e ficou sabendo através da publicação feita, no jornal “O Globo”.

Giniton, homem de confiança do ex-chefe de Polícia Civil, delegado Rivaldo Barbosa, foi escolhido por ele para ser o titular da DH. Logo de cara, recebeu a incumbência de elucidar o caso Marielle, três dias após o crime. As reviravoltas durante a investigação causaram um certo desgaste de Giniton, mas ele seguia firme focado no caso. Até que, com a mudança de governo, Antônio Ricardo assume a direção do DGHPP, criado pelo secretário de Polícia Civil, Marcus Vinicius Braga. O pano de fundo para os desentendimentos entre Giniton e Antonio Ricardo foram justamente as investigações do homicídio da parlamentar e do motorista.

Para manter sigilo total, o titular da DH só abria o caso para dois investigadores da sua inteira confiança e as duas promotoras do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). O medo de vazamento era grande. Antônio Ricardo, que não escolhera Giniton para o cargo, mas teve que aceitá-lo porque o secretário de Polícia Civil e o governador Wilson Witzel confiavam no trabalho do delegado, não se sentia à vontade em não participar do passo a passo da investigação. Embora fosse o diretor, o seu acesso aos dados do inquérito, inclusive por computador, era bloqueado. A atmosfera ficou pesada entre os dois. Giniton e Antônio Ricardo não se pronunciaram a respeito.

No entanto, num evento no Palácio Guanabara nesta quarta-feira, o governador, Wilson Witzel, disse que, em reconhecimento ao trabalho de Giniton no caso Marielle, sugeriu que o delegado se dedicasse a um “programa de intercâmbio” com a polícia italiana. Ao fim da cerimônia, no qual pesquisadores do Museu Nacional tiveram bolsas de emergência outorgadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Witzel afirmou que Giniton foi convidado pessoalmente por ele na terça-feira, após a coletiva deles sobre a prisão do policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Queiroz, suspeitos do homicídio de Marielle e Anderson.

Witzel afirmou que Giniton estava “esgotado” após conduzir as investigações da primeira etapa do caso e, que tinha a chance de “trocar experiências” entre o Rio e outras instituições estrangeiras, como a polícia italiana e o FBI. O delegado terá a oportunidade de ter quatro meses para participar de iniciativas nesse sentido.

O delegado Giniton trabalhou nesse caso e acumulou muita informação. Nós já estávamos trabalhando em um programa de intercâmbio com a polícia italiana e dos EUA, inclusive ontem recebi o FBI aqui. Então estamos com vários intercâmbios para fazer. Como ele está com experiência adquirida e nós estamos com esse intercâmbio com a Itália exatamente para estudar máfia e movimentos criminosos, ele vai fazer essa troca de experiência. Eu ontem fiz esse convite, para saber se ele poderia ser o elemento de ligação com este convênio e passar quatro meses no intercâmbio, montando um programa de aperfeiçoamento dos nossos delegados disse o governador.

Witzel descartou qualquer indicação de que Giniton foi afastado ou exonerado, afirmando que o delegado apenas assumirá novas funções, iniciando o que chamou de “nova fase”. De acordo com o governador, autoridades italianas também virão ao Brasil para a colaboração, previamente acertada com a ministra da Defesa italiana, Elisabetta Trenta. O convite, ainda segundo ele, não compromete o futuro das investigações, ainda que o delegado tenha acompanhado o caso ao longo dos últimos meses, sendo um dos principais nomes:

Fiz o convite porque ele estava cansado, esgotado. O conhecimento da investigação foi compartilhado com outros delegados. Não foi o Giniton que colheu as provas, mas quem direcionou. Neste momento, você colocar outra pessoa que esteja até mais tranquilo para continuar é natural. É uma questão até de melhoria da capacidade investigativa. Neste momento ele tem outra missão: colaborar para disseminar o que foi adquirido.

O governador também não quis dar o nome do substituto de Giniton na fase da investigação para descobrir o mandante do crime, uma vez que “não interfere” em decisões do tipo.

— Não interfiro na indicação de delegados e autoridades da Polícia Civil. O máximo que posso fazer é discutir uma estratégia de investigação a partir da minha experiência como juiz criminal, como no caso Marielle. Haviam elementos para a prisão dos executores, então minha orientação foi a de que fizéssemos imediata prisão, até para não perder essa prova disse o governador.

Sobre acusações que classificou como “o maior absurdo”, Witzel também afirmou que nunca “vilipendiou” a memória de Marielle Franco, e que se ainda não recebeu a família da vereadora no Palácio Guanabara, foi por “uma questão de agenda”. Sobre a nova fase da investigação, o governador afirmou que ela se baseará mais em análise de documentos que na utilização da telemática, técnica que cruza serviços de telecomunicação e que foi utilizada para encontrar os dois executores.

Fonte: Jornal Extra