Enquanto no Rio a temperatura ultrapassa os 40ºC, nos Estados Unidos as mínimas para -52ºC de sensação térmica.
Se no hemisfério Sul os ternos estão sendo dispensados por conta do calor, no Norte a entrega de pizzas foi cortada devido ao frio. No Meio-Oeste e na costa leste dos EUA, além de partes do Canadá, a sensação térmica bateu recordes de -40°C. Em Minneapolis, a sensação chegou a -51°C e as aulas em escolas públicas foram suspensas. Em Wisconsin foi decretado estado de emergência. Mais de 1,1 mil voos tendo os EUA como destino ou origem foram cancelados. Agora a Geórgia, onde empresas fecharam seus escritórios na terça-feira 29, torce para as temperaturas subirem. No domingo 3, receberá o Super Bowl, a final do futebol americano, um dos maiores eventos esportivos do país.
Ciclone polar
Em Chicago, às sete da manhã da quarta-feira 30, a sensação térmica foi de -52°C. Até a vodka, que não congela quando armazenada em freezers comuns, torna-se sólida em um clima desses. Para os americanos que não gostam do frio, o jeito é fugir para estados como o Texas ou a Flórida, alguns dos poucos que manterão os termômetros no positivo. A vantagem de tanto frio é a criação de belas paisagens, como o congelamento das águas das cataratas do Niagara, na fronteira entre os EUA e o Canadá. Lindo de se ver e bom para atrair turistas.
A causa de temperaturas tão extremas no Sul e no Norte é uma só: o aquecimento global, caracterizado pela elevação gradual da temperatura no planeta. No norte, as mudanças alteram o comportamento do vórtice polar (ciclones de baixa temperatura e pressão formados nos polos). No inverno, eles se desestabilizam e espalham-se para o sul. Com o aumento da temperatura, o fenômeno torna-se mais abrangente. O Ártico é uma das regiões do globo terrestre que está se aquecendo mais rapidamente, com registro de alta de 3°C na sua temperatura. “Esse aumento maior no Ártico e menor em regiões temperadas, como nos EUA, faz com que massas de ar muito geladas no inverno do hemisfério Norte se desloquem ao sul com mais facilidade. O vórtice polar fica enfraquecido, quebra-se e sai do isolamento”, explica Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. No hemisfério Sul, a elevação da temperatura no mundo todo torna os verões mais quentes.
Apesar de todas as evidências científicas provando a existência do aquecimento global, inacreditavelmente há uma parcela da população mundial que teima em negá-lo. O presidente americano, Donald Trump, é um deles. No ano passado, durante outro inverno congelante, ele usou o Twitter para fazer troça, perguntando que aquecimento era aquele propalado pela ciência que não impediu a descida dos termômetros. Nesse ano, repetiu a piada sem graça. Pelo Twitter, ele postou: “No belo Meio-Oeste, temperaturas gélidas estão alcançando -15 °C. Que diabos está acontecendo com o aquecimento global? Por favor volte rápido, precisamos de você!” Com o chefe do mais importante país do mundo falando tanta bobagem sobre o assunto, só restar pedir: ciência, por favor, não esmoreça. A Terra precisa de você.
Fonte: Revista Isto É