Crivella manda recolher da Bienal HQ dos Vingadores com temática LGBT

 Prefeito disse que ‘está protegendo os menores da nossa cidade’; advogada diz que decisão é ‘censura e equivocada’

O prefeito Marcelo Crivella determinou que o livro “Vingadores, a cruzada das crianças” fosse recolhido da Bienal do Livro, no Riocentro. Em um vídeo publicado nas redes sociais, o prefeito afirma que a HQ tem “conteúdo sexual para menores”.

A prefeitura do Rio determinou que os organizadores recolhessem esse livro, que já foi denunciado inclusive na internet e que traz conteúdo sexual para menores. Livros assim precisam estar embalados em plástico preto, lacrado e com um aviso do lado de fora sobre o conteúdo. Portanto, a prefeitura do Rio de Janeiro está protegendo os menores da nossa cidade disse o Crivella.

A HQ em questão é o 66º volume da Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel, lançada no Brasil em 2016 pela Editorial Salvat em parceria com a Panini Comics. A série é uma coleção de arcos clássicos de super-heróis da Marvel, republicados em formato de luxo.

A trama, que envolve um relacionamento gay, tem autoria do americano Allan Heinberg e do britânico Jim Cheung. Foi publicada originalmente em 2010.

Para Deborah Sztajnberg, advogada especializada em direito autoral e autora do livro “Cala boca já morreu: a censura judicial das biografias”, a medida pode ser considerada como censura do prefeito:

Quero crer que a Constituição ainda seja válida. Lá diz, textualmente, que acabou censura no Brasil. Uma decisão como essa precisa ser tomada por via judicial ou por decreto, mas de toda a forma é totalmente equivocada. É censura. O prefeito governa para uma cidade inteira, e não para uma parcela da população que compactua das crenças dele afirmou a advogada.

Cristina Costa, professora de Comunicação e Cultura da ECA-USP e especialista em censura, classifica o caso como um ato contra a liberdade de expressão:

Uma professora pode proibir palavrão dentro da sala de aula, porque ela é a autoridade dentro daquele circuito. Já a censura normalmente tem caráter político e parte de uma autoridade usando seu poder para inibir a livre circulação de um produto cultural e artístico disse.

Procurada, a Bienal afirmou que “dá voz a todos os públicos, sem distinção, como uma democracia deve ser. Inclusive, no próximo fim de semana, a Bienal do Livro terá dois painéis para debater a literatura Trans e LGBTQA+. A direção do festival entende que, caso um visitante adquira uma obra que não o agrade, ele tem todo o direito de solicitar a troca do produto, como prevê o Código de Defesa do Consumidor.”

Em nota, A Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) afirmou que “notificou, na tarde desta quinta-feira, dia 5, a organização da Bienal do Livro a adequar as obras expostas na feira aos artigos 74 a 80 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que preveem lacre e a devida advertência de classificação indicativa de conteúdo em publicações com cenas impróprias a crianças e adolescentes. Em caso de descumprimento, o material sem o aviso será apreendido e o evento poderá ainda ter a licença cassada.”. Também na tarde desta quinta-feira, um grupo de guardas municipais foi à Bienal com o objetivo de recolher os livros. Os agentes foram recebidos pela direção do evento e, após uma conversa, saíram sem cumprir seu objetivo.

Vereador diz que livro é ‘covardia contra as crianças’

No plenário da Câmara Municipal, nesta quarta-feira, o vereador Alexandre Isquierdo (DEM) reclamou da comercialização do livro na Bienal. Empunhando o livro na tribuna, ele afirmou que seu ato não era homofóbico:

O autor, que é assumidamente gay, coloca dois super-heróis se beijando e tendo relação homossexual. Não dá para admitir covardia contra as nossas crianças. Propagação e divulgação homossexual para as crianças. Os pais estão comprando achando que é um livro infantil. Cada um faz o que quiser da sua vida. Agora, descer goela abaixo das nossas crianças é coisa de bandido e covarde. Estou apresentando uma moção de repúdio afirmou o vereador.

Fonte: Jornal O Globo

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