A concorrência desleal do comércio ambulante também é apontado pelo vice-presidente da Saara.

Vendedores de braços cruzados à espera de clientes, lojas fechadas, muitas delas ostentando na fachada uma placa de “aluga-se” ou “vende-se”. Este é o retrato da crise que não poupa nem aquele que é considerado o maior centro de comércio popular da América Latina, a Saara (Sociedade dos Amigos da Rua da Alfândega e Adjacências), formado por um conjunto de onze ruas e 650 estabelecimentos comerciais. O formigueiro humano no qual o local se transformava às vésperas de datas festivas, como Natal, Carnaval e Dias das Mães ficou para trás.
Depois de amargar o pior dezembro de sua história, com uma redução de 25% nas vendas, o movimento ensaiou uma recuperação em fevereiro para depois cair de novo, atingindo um patamar de queda de 20%, segundo avaliação do vice-presidente da Saara, Luis Blumberg. Ele disse ainda que no último ano mais de 20 lojas sucumbiram à crise e fecharam as portas. A mais recente, há cerca de 15 dias, foi a filial de uma franquia de uma grande rede de lanchonetes, na esquina da Rua Senhor dos Passos com Avenida Passos. Apesar disso, ele confia numa retomada do crescimento nos próximos meses.
— A Saara é um termômetro da economia do Rio. Um reflexo do que acontece na cidade. Aqui a gente recebe pessoas de todas as classes sociais porque vendemos todo tipo de produtos. A situação só não é pior porque as pessoas ainda acreditam no potencial do lugar e as lojas que encerram atividades não ficam fechadas por muito tempo, pois pode estar ruim para um ramo de negócio, mas não necessariamente para outro — afirma Blumberg.

A comerciante Isabel Cavalcante, de 45 anos, dona de uma ótica na Rua dos Andradas em sociedade com o pai, prefere não esperar a situação melhorar. Depois de demitir cinco dos nove funcionários, colocou a venda o estabelecimento e está só a espera de um comprador para fechar as portas, o que acredita que vá acontecer até o fim do ano. A lojista diz que com a queda em 50% nas vendas não tem como suportar o pagamento do aluguel, que incluindo as taxas, chega a R$ 4 mil.
— As vendas vêm caindo desde a Copa do Mundo de 2014 e cada vez fica pior. Ainda tem a concorrência desleal dos camelôs que vendem lentes e armações para óculos a um preço bem mais barato, com a diferença que eles não pagam impostos nem funcionários — reclama a comerciante que está desde 2013 no atual endereço, mas seu pai já está no ramo desde a década de 60.

A concorrência desleal do comércio ambulante também é apontado pelo vice-presidente da Saara como um dos agravantes para fazer despencar as vendas. As calçadas da Rua Buenos Aires, no trecho entre a Rua dos Andradas e a Avenida Passos está tomada por camelôs que ocupam, sem cerimônia a frente das lojas, disputando a clientela com o comércio estabelecido. O mesmo acontece na Rua da Alfândega, perto da igreja de São Jorge.
— Nossa esperança é que a tradição da Saara e a força dos empreendedores da região vá nos ajudar a vencer essa crise — acredita Blumberg, que teme ainda que a elevação do IPTU prevista no projeto do Executivo em apreciação na Câmara Municipal possa agravar a crise.
O comerciante Ronaldo Darzi é o exemplo da força empreendedora citada por Blumberg. Em vez de se deixar abater pela crise, o dono de um tradicional comércio de tecidos — que resiste desde 1935 no térreo de um sobrado na Rua Buenos Aires— decidiu se reinventar. Para driblar os tempos bicudos ele resolveu diversificar os negócios.
No espaço que fica no segundo andar do sobrado onde está instalada o estabelecimento criou uma loja de artigos de decoração de ambientes, com bar e café que também aluga para eventos. Para atrair clientes, às sextas-feiras oferece feijoada e, durante a semana, no final do dia abriga uma animada happy hour.
— Minha intenção foi criar um ambiente para diversificar e trazer mais público, até porque essa crise que já se arrasta há algum tempo não dá sinal de que irá embora tão cedo.
Fonte: Jornal Extra
Rede TV Mais A Notícia da sua cidade!
