Sofia Braga brincava no parquinho do Habib’s quando foi atingida na cabeça por um disparo em Irajá. PM perseguia um carro e homem foi preso.
“Minha filha estava brincando no parquinho do Habib’s de Irajá, e o tiro que o vagabundo deu atingiu minha filha. Ela não resistiu.” O relato, com a voz embargada pelo choro, foi gravado pelo soldado Amaral. Lotado no 16º BPM (Olaria), ele estava de folga e tinha levado a família para um passeio. Sofia Lara Braga, de apenas 2 anos e meio, brincava no parquinho da lanchonete Habib’s, em Irajá, na Zona Norte da cidade, quando uma bala atingiu sua cabeça. O pai, em desespero, ainda pegou-a no colo, correu até a viatura da polícia, mas a menina já chegou no hospital sem vida.
A bala perdida veio de uma perseguição policial a uma picape L-200 que havia saído da Favela Para-Pedro, no mesmo bairro. Houve troca de tiros e, na altura da Avenida Monsenhor Felix, um dos tiros acertou a menina. O suspeito, que estava sozinho no veículo, foi preso. Thiago Rodrigues dos Santos estava com uma pistola no carro, que capotou e ainda acabou ferindo um mototaxista e outro transeunte, que foram levados para o hospital e passam bem. A perícia indicará de qual das armas partiu o tiro.
O policial militar Felipe de Souza Amaral Fernandes, de 34 anos, esteve na manhã deste domingo no Instituto Médico-Legal (IML), no Centro, para buscar a certidão de óbito da filha de dois anos, Sofia Lara Braga, atingida por uma bala perdida na noite de sábado, enquanto brincava na lanchonete Habibi’s, em Irajá. Emocionado, Felipe contou que um bandido roubou um carro na Avenida Martin Luther King e foi perseguido pela polícia. Segundo o PM, o criminoso fez vários disparos e um deles acabou acertando sua filha.
— Sofia era linda, alegre e inteligente. Só trouxe alegria para mim e para minha esposa — disse Felipe.
Vítimas
Na manhã de sábado, dois homens haviam sido mortos por balas perdidas durante uma guerra entre traficantes na Cidade Alta, também na Zona Norte. Na quinta-feira foi a vez de uma menina de 16 anos, que havia sido atingida na barriga durante um confronto entre PMs e traficantes do Morro dos Prazeres, em Santa Teresa.
O total descontrole da segurança pública e a falta de informações de inteligência para evitar invasões de favelas vai fazendo mais vítimas a cada dia no Rio de Janeiro. Na manhã deste sábado, durante um confronto entre facções rivais, dois inocentes foram assassinados por balas perdidas na Cidade Alta, conjunto habitacional às margens da Avenida Brasil, em Cordovil, na zona norte da cidade.
João Paulo e Anisio Alves, vítimas de bala perdida durante confronto de quadrilhas rivais na Cidade Alta, no Rio (Reprodução)
O ataque de criminosos do Comando Vermelho aconteceu pouco depois das 6 horas da manhã. Anísio Alves, entregador de bebidas que completava 41 anos neste dia 21 de janeiro, foi baleado na Rua Água Doce, próximo ao ponto final da linha de ônibus 335. Funcionário da área de manutenção do Metrô Rio, João Paulo de Oliveira, também de 41 anos, foi baleado no peito dentro de casa, no edifício Rio Comprido, na rua Ponto Chique. “Nem sair de casa para manifestar e reclamar nós podemos, porque está todo mundo com medo”, diz um morador.
Logo pela manhã, começaram a pipocar nas redes sociais vídeos e fotos do confronto. Bandidos do CV tentam retomar o controle da Cidade Alta, que em novembro passado foi invadida por bandidos da vizinha Parada de Lucas, da facção Terceiro Comando Puro (TCP).
Ainda de manhã, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) foi acionado e se meteu no confronto, que deixou ainda um suspeito morto é uma moradora baleada na perna esquerda.
Adolescente morta
Ontem à noite foi confirmada a morte de outra vítima de bala perdida na cidade. Thayssa da Silva Matos, de 16 anos, havia sido ferida na barriga na última terça-feira, durante um ataque de criminosos à base da UPP do Morro dos Prazeres, em Santa Tereza. Ela chegou a ficar internada no Hospital Souza Aguiar, onde passou por duas cirurgias, mas não resistiu a uma hemorragia.
Fonte: Revista Veja