Será que agora chega ou Trump seguirá na autodestruição?

Incitar espiões estrangeiros e malucos locais contra Hillary parece ser o auge. Mas sempre pode ter mais um pouco.

screen-09.10.37[11.08.2016]

O que mais Donald Trump pode fazer depois de incentivar agentes russos a espionar Hillary Clinton e insinuar que o “pessoal da Segunda Emenda” podia dar um jeito nela? Para lembrar, a Segunda Emenda é o artigo da constituição que trata do direito de ter armas, daí a conclusão óbvia. Só para lembrar: a história americana já demonstrou que não faltam desatinados com uma arma na mão e um presidente na cabeça.

Numa das raras vezes em que tentou consertar alguma das suas muitas bravatas descontroladas, Trump disse que estava falando no poder político que os opositores aos limites sobre armamentos pessoais têm em termos eleitorais.

O estrago que Trump está fazendo a si mesmo, numa campanha que já era difícil para ele, é espantoso. Nas duas últimas semanas, ele implodiu todos os fatores que tinha a seu favor:  candidato de fora da política num momento de desilusão com os partidos tradicionais, bilionário que não depende dos favores do mundo do dinheiro grosso, showman que sabe se manter no centro dos acontecimentos, populista que fala a emoções de alto teor inflamatório como patriotismo e recriação de empregos que, na verdade, não voltarão jamais.

Hillary Clinton, no momento, só tem que fazer o que está fazendo: uma campanha convencional. Até seus momentos negativos são transformados pelos adversário em friendly fire, os disparos equivocados de um  exército em guerra contra si mesmo.

O caso dos e-mails do Partido Democrata vazados foi um exemplo. O Wikileaks de Julian Assange soltou uma batelada de 20 mil e-mails trocados entre dirigentes do partido. Nada muito grave, mas o suficiente que açular a raiva dos partidários do adversário democrata de Hillary, Bernie Sanders.

Foi durante a convenção democrata e provocou a demissão da presidente do comitê partidário, Debbie Wasserman Shultz, por falta de uma neutralidade na qual ninguém nunca acreditou, pois Hillary domina a máquina, mas que fazia parte do contrato.

Os e-mails foram hackeados por dois serviços de espionagem russos e passados para o WikiLeaks, segundo concluíram especialistas em segurança contratados pelo partido.

Em vez de explorar o momento de fragilidade de Hillary, Trump conclamou uma potência estrangeira, tradicional adversária dos Estados Unidos, a ir atrás dos outros e-mails dela, da época em que era secretária de Estado e, escandalosamente, usou um servidor pessoal para se comunicar em sigilo proibido pelos regulamentos de transparência pública.

“Rússia, se está ouvindo, espero que consiga encontrar os 30 mil e-mails desaparecidos”, disse Trump. Ficou parecendo um candidato da Manchúria, nome do livro e do filme dos anos sessenta, em que um militar é capturado pelos soviéticos, submetido a lavagem cerebral e plantado para cometer um assassinato político que levará sua mãe, uma agente infiltrada, ao poder.

Ironicamente, a linha dura mais contrária ao presidente Barack Obama sempre o considerou uma espécie de agente inimigo, dado ao passado de militante esquerdista próximo de intelectuais extremistas e ao presente de desidratação da projeção do poder americano, em especial no Oriente Médio. Um dos argumentos mais usados era que Obama sequer tinha nascido em território americano – e Trump justamente virou seu grande propagador.

Hillary é uma candidata que ainda provoca muita rejeição, justificada pelas suspeitas mais do que superficiais de relação flexível com a verdade e tráfico de influência em benefício da Fundação Clinton. Mas seu adversário é hoje considerado uma ameaça à segurança nacional, não pelos adversários de praxe, mas por especialistas de seu próprio partido.

Ela está subindo em todas as pesquisas. Em estados decisivos, como a Pensilvânia, chega a 11 pontos de vantagem. No Colégio Eleitoral, tem hoje 259 votos, contra 164 para Trump. Segundo uma pesquisa da Reuters, 19% dos eleitores republicanos gostariam que Trump caísse fora da eleição. Entre eles, muitos vão acabar votando em Hillary como mal menor. O número pode aumentar diante da espiral autodestrutiva em que Trump parece consumido.

É triste ver uma eleição ser decidida assim, mas também é difícil hoje discordar dessa decisão pragmática. Quantas vezes, no Brasil não nos baseamos exatamente no mesmo princípio de voto útil?

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Fonte: Veja

 

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