PL DA DOSIMETRIA VOTADA NA CÂMARA ESCANCARA ESCALADA DE TENSÃO POLÍTICA, CENSURA À IMPRENSA E POLARIZAÇÃO EM ANO PRÉ-ELEITORAL

Confusão envolvendo deputados, imprensa e a Polícia Legislativa marca um dos dias mais tensos do Congresso desde os atos de 8 de janeiro. 

A aprovação do PL 2162/2021 — conhecido como PL da Dosimetria, que prevê redução de penas para condenados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro — transformou a Câmara dos Deputados em um palco de forte tensão política nesta terça-feira (9). Em meio a um ambiente de nervos exaltados, episódios de censura à imprensa, violência policial, quebra do decoro interno e hostilidade entre parlamentares evidenciaram o nível crítico da polarização no Congresso, justamente no ano que antecede as eleições municipais de 2026.

O projeto foi aprovado com 291 votos favoráveis e 148 contrários, mas o mérito da proposta acabou ofuscado pelos confrontos internos. O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) protagonizou um protesto ao sentar na cadeira da Presidência, ocupada por Hugo Motta (Republicanos-PB), que anunciou intenção de colocar em votação ainda neste ano o processo de cassação do parlamentar — acusado de agredir um militante do MBL em 2024. A reação foi imediata: a Polícia Legislativa foi acionada e retirou Braga com violência, em pleno plenário.

Em uma decisão sem precedentes recentes, o sinal da TV Câmara foi tirado do ar, e jornalistas foram expulsos do plenário, também sob uso de força. Associações de imprensa denunciaram censura, autoritarismo e graves violações à liberdade de informação. A Fenaj, o SJPDF, a ABI e a Abraji divulgaram notas duras condenando o cerceamento à cobertura jornalística e a repressão contra profissionais e parlamentares.

A escalada de tensão ocorreu no mesmo dia em que a presidência da Câmara anunciou outra votação sensível, vista por parte da oposição como potencialmente benéfica ao ex-presidente Jair Bolsonaro — que, por sua vez, encontra-se recluso, sob pedido de internação para um procedimento cirúrgico, enquanto mobiliza sua base em meio a incertezas jurídicas e políticas.

No Senado, o clima também é de expectativa. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), afirmou que pretende pautar o PL ainda neste ano, sinalizando tramitação acelerada. Líderes oposicionistas já articulam um pedido para levar o texto direto ao plenário, evitando debate na CCJ. O governo federal, por sua vez, demonstra incômodo com a forma “repentina” como a matéria foi colocada em votação na Câmara, avaliando que a articulação ignorou canais de diálogo tradicionais com o Planalto.

O episódio reforça o quadro de polarização extrema, radicalização das relações entre esquerda e direita e desrespeito a ritos básicos do Legislativo. Em pleno ano pré-eleitoral, com um ex-presidente fragilizado e parte da população temerosa diante de possíveis retrocessos democráticos, o Congresso vive um dos momentos mais instáveis desde 2016 — agora marcado por trocas de acusações, disputas de poder e sinais de erosão institucional.

A chegada do PL ao Senado promete novas disputas e pressões, transformando a tramitação em mais um capítulo de um cenário político que, longe de arrefecer, tende a se intensificar à medida que o país se aproxima de 2026. Uma democracia, segundo entidades de imprensa e especialistas, não pode se permitir “espetáculos grotescos” de autoritarismo e violência — justamente aquilo que milhões de brasileiros testemunharam no Congresso Nacional em um único e turbulento dia.

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