EXTINÇÃO POR EXTRAÇÃO: COP30 EXPÕE A URGÊNCIA CLIMÁTICA E DESTACA RESISTÊNCIA DAS COMUNIDADES PESQUEIRAS DO RIO DE JANEIRO

Relatório da Anistia Internacional reforça pressão global pelo fim dos combustíveis fósseis e ecoa lutas históricas da AHOMAR na Baía de Guanabara.

Uma história triste repetida 25 anos – A Natureza e os direitos humanos 

A COP30, realizada em Belém, tornou-se palco de um dos alertas mais contundentes já feitos sobre a crise climática e humanitária provocada pelos combustíveis fósseis. Durante o evento, a Anistia Internacional lançou o relatório “Extinção por Extração: Por que o ciclo de vida dos combustíveis fósseis ameaça a vida, a natureza e os direitos humanos”, documento que tem repercutido globalmente por expor como a exploração petrolífera está conduzindo populações, ecossistemas e espécies inteiras a uma condição de vulnerabilidade extrema — uma verdadeira “linha tênue da vida”.

O relatório sistematiza evidências há décadas denunciadas por cientistas, ambientalistas e comunidades tradicionais. Para a Anistia, não existe justiça climática possível enquanto houver dependência dos combustíveis fósseis, cuja cadeia produtiva — da extração à queima — é responsável por destruição ambiental, contaminação, colapso climático e violações graves de direitos humanos.

AS MEDIDAS DA COP30: PRESSÃO MUNDIAL PELO FIM DO CICLO FÓSSIL

A edição da COP30 intensificou o debate sobre a necessidade de um plano global de eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, trazendo resoluções e articulações importantes:

 Zonas Livres de Combustíveis Fósseis

Mais de 70 organizações — entre elas a Anistia — defenderam a criação internacional de territórios que proíbam novas explorações de petróleo, gás e carvão. A proposta visa pressionar governos a estabelecer limites reais ao avanço da indústria fóssil e acelerar a transição energética.

 Direitos Humanos no Centro das Políticas Climáticas

Foi reforçado que políticas ambientais e energéticas precisam garantir:

  • direito à vida;

  • direito ao meio ambiente saudável;

  • direito à moradia adequada;

  • proteção à saúde e aos modos de vida tradicionais.

A COP30 assumiu o compromisso de que futuras decisões climáticas devem considerar o impacto direto sobre populações vulneráveis.

 Alerta sobre a linha tênue da vida

O relatório trouxe dados impactantes: 2 bilhões de pessoas no mundo vivem próximas a instalações de extração e já sofrem danos severos — envenenamento, doenças, perda de renda, deslocamentos forçados e ameaças à sobrevivência.

Foto: Alexandre Anderson, AHOMAR a direita no Painel Ciclo da Crise  

AHOMAR: O EXEMPLO BRASILEIRO QUE A COP30 AJUDOU A ILUMINAR

No Brasil, poucas organizações incorporam tão profundamente a ideia de resistência socioambiental quanto a AHOMAR (Associação Homens do Mar da Baía de Guanabara). A luta da entidade, sediada na Praia de Mauá, em Magé, tornou-se referência internacional — reconhecida pela Anistia Internacional desde 2010 — pela coragem diante das violações ambientais e de direitos humanos cometidas no entorno da Baía de Guanabara.

📍 Um histórico de enfrentamento

Segundo Alexandre Anderson, diretor da AHOMAR, a realidade denunciada hoje no planeta inteiro já era vivida diariamente pelos pescadores artesanais de Magé há décadas. Eles enfrentaram:

  • contaminação das águas;

  • redução drástica dos estoques pesqueiros;

  • ameaças ao sustento das famílias;

  • violência e intimidações por denunciar irregularidades da indústria petrolífera;

  • impactos acumulados desde desastres como o derramamento de óleo cru de janeiro de 2000, um dos mais graves da história do Rio.

*A tragédia do vazamento de óleo na Baía de Guanabara ocorreu na madrugada de 18 de janeiro de 2000. O acidente, considerado um dos maiores desastres ambientais da história da Baía, despejou cerca de 1,3 milhão de litros de petróleo cru no ecossistema local.

  • Causa: O vazamento foi provocado pelo rompimento de um duto da Refinaria Duque de Caxias (REDUC), pertencente à Petrobras, que ligava a refinaria ao terminal da Ilha D’Água. A causa foi supostamente a acomodação do terreno, uma área de manguezais que margeia a refinaria.
  • Impacto Ambiental: A mancha de óleo se espalhou por aproximadamente 50 km², atingindo 23 praias e destruindo extensas áreas de manguezais, incluindo a Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim, uma das últimas regiões preservadas da Baía. Houve mortandade de peixes e aves, e o ecossistema levou anos para começar a se recuperar.
  • Impacto Social e Econômico: O acidente impactou gravemente as comunidades locais que dependiam da pesca, impossibilitando mais de 600 pescadores e catadores de caranguejo de exercerem suas atividades e obterem renda.

 Resistência como prática cotidiana

A comunidade pesqueira de Mauá desenvolveu o que o relatório chama de “resistência e comprometimento” muito antes de o termo ganhar lugar nas negociações climáticas globais. Anos de luta, denúncias, vigília ambiental e ações de preservação colocaram a AHOMAR como símbolo nacional e mundial de defesa da vida e dos direitos humanos frente à exploração predatória.

 A Baía de Guanabara como patrimônio de vida

As inúmeras matérias da RedeTV+ ao longo dos anos já destacaram como a AHOMAR atua:

  • monitorando impactos ambientais;

  • denunciando crimes ecológicos;

  • promovendo projetos de conscientização e recuperação da Baía;

  • preservando a atividade pesqueira tradicional.

Enquanto a COP30 aponta caminhos globais, a AHOMAR demonstra diariamente que a luta pela vida se faz no território, onde cada ação tem consequências imediatas.

Painel do Ciclo da Crise:  Palestrantes do Tema – foto divulgação 

UM MUNDO À BEIRA DA EXTINÇÃO, MAS AINDA COM ESPERANÇA

A mensagem central da Anistia Internacional é dura, porém clara:
sem abandonar os combustíveis fósseis, não há futuro sustentável — nem para o clima, nem para a humanidade.

A conferência em Belém reforça que o planeta está diante de escolhas decisivas e que a defesa da vida exige urgência. Ao mesmo tempo, a trajetória da AHOMAR mostra que a transformação começa nas comunidades, nos territórios, nas vozes que se recusam a silenciar diante da injustiça.

Assim como a COP30 pede mobilização global, a história de Mauá e da Baía de Guanabara lembra que cada ecossistema é único, cada vida importa e cada luta local é parte essencial do movimento que pode evitar a “extinção por extração”.

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