Prefeitura vai investir quase R$ 25 milhões ; projeto faz parte do pacote de obras do programa ‘Reviver Centro’.
O Centro do Rio de Janeiro ganhará um novo visual em 2023. Desta vez, a mudança acontece nas calçadas e ruas da Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega, mais conhecida como Saara. A Prefeitura do Rio vai urbanizar, até o fim de abril, 16 ruas da região comercial.
A promessa da gestão municipal é que com as obras, que vão durar dois anos, os pedestres atravessarão a Saara sem tropeços. No plano, pedras portuguesas, que estão gastas e irregulares, serão substituídas por um novo tipo de piso, conhecido como intertravado já adotado na região da Zona Portuária do Rio. Também será feito o nivelamento das calçadas com as ruas. Haverá ainda modificações no sistema de drenagem, transferido para o centro da via.
De acordo com os arquitetos do município, a região ganhará ainda mais espaço para quem bate perna pela movimentada Avenida Passos, que divide a região da Saara ao meio. Hoje, as calçadas são estreitas, principalmente do lado esquerdo da via. O tráfego de veículos continuará em três faixas, mas não tão largas.
O projeto, que tem um orçamento de R$ 24,6 milhões, será focado numa área de 190 mil metros quadrados.
A última grande obra na Saara aconteceu nos anos 1990, quando oito vias, incluindo as ruas da Alfândega e Regente Feijó, foram fechadas de vez ao trânsito. Na nova reformulação, elas continuarão exclusivas para pedestres.
Reviver Centro
As intervenções fazem parte do programa Reviver Centro, sancionado em 2021. O programa visa revitalizar urbanística, social e economicamente, além de dar espaço para projetos residenciais crescerem na região central da capital fluminense.
“As maiores cidades do mundo têm feito, ao longo dos anos, intervenções para melhorar a circulação de pedestres em seus centros comerciais e nas áreas históricas. O objetivo aqui é preparar também essa área para atender os futuros moradores do entorno”, explica a secretária municipal de Infraestrutura, Jessick Trairi.
Impacto nos comércios
De acordo com Trairi, reuniões serão realizadas com os comerciantes para discutir uma estratégia que evite maiores impactos no dia a dia. Uma preocupação válida de quem trabalha na Saara, que chega a receber cem mil pessoas por dia às vésperas de datas comemorativas como Natal e carnaval.
Saara
A Saara é composta por mais de 1.200 lojas e é considerado o maior shopping ao céu aberto do mundo. E sua história começou em meados do século XX.
As guerras e as crises econômicas que abalaram o mundo, no início do século XX, forçaram muitas pessoas a deixarem seus países de origem. O Brasil, país pacato e com oportunidades de trabalho, virou porto seguro para muita gente.
Nesse período, muitos imigrantes sírios e libaneses desembarcaram no Brasil. Instalados no Brasil, esses imigrantes até tentaram outros tipos de trabalho, como o rural, a exemplo de italianos, alemães e japoneses. Entretanto, o talento deles era mesmo para as vendas.
E essas vendas ambulantes passaram a ter um ponto fixo. Esses comerciantes sírios e turcos se instalaram na Rua da Alfândega. O local, em meados do século XX, não era dos mais agradáveis. Contudo, a insegurança e a sujeira do lugar foram dando espaço para as lojas, que, sobretudo, comercializavam tecidos e materiais para costura.
Mas, apenas em 1962, nasceu oficialmente o SAARA: Sociedade de Amigos e Adjacências da Rua da Alfândega. Embora esses comerciantes já estivessem lá há décadas, ainda não havia essa organização formal.
A organização formal foi motivada por uma situação extrema. O então governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda, queria fazer uma via que ligaria a Praça XV até a Central do Brasil. Essa via passaria pela região do SAARA e muitas lojas precisariam ser removidas.
Nessa época, os comerciantes locais foram dialogar com Lacerda, desejando que essa obra não acontecesse. E eles conseguiram isso usando um grande argumento de que eles, comerciantes, eram os maiores pagadores de ICM (imposto sobre circulação de mercadorias) do Estado. O governo não podia perder essa arrecadação e assim nasceu o SAARA.