“Querem pemba / querem guia / querem fica de Guiné / Axé, Magé / Sinfonia de tambores / hoje a gira vai gira / ê mojúbà, ê mojúbà”
Sexta escola, se apresentar na madrugada de domingo, a agremiação empolgou o público e teve como destaque a empolgação da comunidade. Ainda na concentração, a tricolor passou por uma situação inusitada: teve que parar o canto e bateria por causa de um problema na dispersão com a escola anterior, a Cubango.
Após uma espera de quase dez minutos, a agremiação retornou seu desfile.
A bateria de mestre Washington Paz deu o tom à apresentação com bossas construídas em cima da letra do samba. O som dos ritmistas garantiu a folia da ala de passistas, que desfilou com um figurino que fazia alusão ao balanço do mar. O futebol também fez parte do enredo, que prestou homenagem a Mané Garrincha.
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Peixinho e Jaçanã, bailavam graciosamente com passos perfeitos sendo rodeados pelas baianas e Velha-Guarda.
O segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, Douglas Valle e Thayanne Loureiro, vestiu uma fantasia incomum: ele, representando o astro dos estádios, e ela a bola de futebol.
A Inocentes de Belford Roxo levou para a Avenida o enredo: ‘Mojú, Magé, Majubá – Sinfonias e Batuques’, do carnavalesco Wagner Gonçalves, que prestou homenagem aos 452 anos de Magé, a segunda cidade mais antiga do Estado do Rio de Janeiro.
O desfile foi realizado sob o ótica de Heitor dos Prazeres, pintor, sambista, que foi casado com uma moradora do município e tinha casa por lá, cada setor da apresentação será visto como se fosse uma tela de Heitor.
A parte frontal da alegoria trazia uma escultura gigantesca que representava justamente a folia de reis. Trazendo toda a característica peculiar desta festa que é bem tradicional na cidade de Magé.
Na parte lateral do carro era possível observar as referências ao futebol. A escola de Belford Roxo fez uma merecida homenagem a Garrincha, que é oriundo de Pau Grande, Distrito de Magé. A alegoria trazia o ídolo botafoguense como um rei da folia, já a parte traseira, tinha uma mensagem de Heitor dos Prazeres, narrador de todo o desfile da Inocentes de Belford Roxo e um dos pontos mais fundamentais deste enredo.
O carnavalesco da escola, Wagner Gonçalves, contou o porquê da escolha de levar para a Sapucaí a alegoria falando sobre folia de reis ao lado de Mané Garrincha.
– A gente fecha com o carro intitulado Folia de Reis e dos Prazeres e a gente brinca com a situação da folia de reis, que é uma manifestação cultural e de influência religiosa que ainda é muito forte em Magé. Nós pontuamos o Garrincha como um dos reis dessa folia e o Heitor dos Prazeres narra todo este fato, a gente encerra o desfile de maneira divertida, alegre e apoteótica – concluiu.
A comissão de frente da Inocentes de Belford Roxo trouxe integrantes vestidos de bonecas Abayomi para interagir com uma criança. De acordo com a pesquisa do enredo, as mães africanas, durante viagens em Tumbeiros, faziam essas bonecas para tranquilizar seus filhos. O coreógrafo Patrick Carvalho, revelou que todos os passos foram pesquisados previamente para montar uma coreografia complexa e consistente. “É uma dança visceral, que foi muito bem pesquisada por mim e pela equipe da escola. Foi um trabalho muito gostoso de fazer e que tem uma mensagem bonita por trás”, comentou. O coreógrafo retorna à escola após três anos.
Mesmo com todo o problema financeiro que as escolas de samba estão atravessando, o nosso projeto não será alterado, pois não dá para fazer nada macro demais nesse grupo, onde todas tem a possibilidade de galgar uma boa posição. Nosso tema é rico, com a proposta de mostrar a cidade de Magé, na visão do artista plástico Heitor dos Prazeres, que tinha residência na região. Não quero dizer que somos a favorita, mas se derem a bola no nosso pé é gol”, disse o Diretor de Carnaval Wagner Gonçalves.
O diretor de bateria Washington Paz era só sorrisos e foi alvo de muitos elogios devido a perfeição com que seus ritmistas tocaram o samba, inclusive com arranjos especiais.
A Inocentes diferente dos anos anteriores, encomendou sua obra aos renomados compositores Cláudio Russo e André Diniz. Em seu carro de som, promoverá a estreia de Ricardinho Guimarães, que substitui Nino do Milênio, que migrou para o Tuiuti. Mais tarde, Ricardinho ganha a companhia do experiente Anderson Paz, recém saído da Porto da Pedra.
Denise Dias estreou como rainha de bateria da Inocentes de Belford Roxo sacudindo a Sapucaí. Denise apostou em uma fantasia luxuosa com pedras bordadas e penas de pavão: “Esse ano eu vim mais ousada ainda, com um body extremamente cavado e com todas as pedras bordadas à mão”. “Foram mais 20 mil pedras bordadas por uma que se reveza quase 24 horas por dia. No costeiro foram mais de 400 penas de faisão real.
No total, mais 600 penas! A escola estava linda e vamos brigar pelo título”, disse a rainha de bateria.
Um grupo de 13 bailarinos negros no abre-alas da Inocentes de Belford Roxo chamou atenção na Sapucaí na noite de sábado. Os rapazes fazem parte do grupo do Carlinhos Salgueiro e representam escravos, só que com um detalhe: todos eles usavam fio-dental.
Os mageenses também estiveram na avenida. Uma comissão da Flor de Magé, da União do Canal e moradores estiveram por todas as alas. A emoção está garantida”, falou Wagner. “Fiquei surpreso com o tempo de fundação e tradição da Flor. Eles têm uma energia maravilhosa e todos os fundamentos que uma escola precisa. Vamos fechar o carnaval com uma identidade cultural e com uma escola que têm pessoas apaixonadas pelo samba. Eles nos ajudaram bastante, vieram ao barracão e colocaram a mão na massa”, completou.
Prefeito de Magé, Rafael Tubarão, se diz satisfeito com o desfile e em entrevista ao Magé|Online.com, agradeceu a manifestação de carinho pelos dirigentes da Inocentes de Belford Roxo pela escolha e valorização da cultura mageense. “Nos sentimos horados por participar do maior evento de manifestação cultural do mundo. Independente da colocação que a escola alcançar, para nós mageenses já somos vencedores. Essa vitória, é parte de muitas ainda que estão por vir, a cidade vive momentos de renovação, e apesar das dificuldades, temos avançado a cada dia. Estamos vivenciando um momento de transformação no comportamento da sociedade mageense, a política inicia um processo de renovação, novos tempos estão por vir, a população mageense terá gravado em sua história esses momentos, que virão com a “força do povo,” seguimos em frente sem olharmos para o retrovisor, Magé precisa de todos para alcançar sua plenitude e caminha a passos largos para retomada dos tempos perdidos.”
Moju, Magé, Mojubá – Sinfonias e Batuques (Samba-Enredo 2018)
Inocentes de Belford Roxo
Um batuque africano me chamou
A pintura fez da tela, seu lugar
Os prazeres vão se refletir
Nas histórias que eu vou contar
Sai o trem da estação, pra trilhar esta canção
Moju, Magé, Mojúbá!
Luz dos olhos de olodumaré em cada amanhecer
Toca o atabaque, onde a áfrica aportou
Clamando por piedade
Toca o atabaque, onde a lágrima aportou
Maria conga ergueu a liberdade
Benta água, ritos tão divinos
Sentimentos cristalinos
Pureza a pé, procissão
Se a festa é de Pedro, não demora
Nossa fé, senhora, desta oração!
A tribo que chegou aqui primeiro
Deu o nome feiticeiro às entranhas desse chão
Auê, auê na riqueza da pingueira
Pra escorrer a doçura brasileira
Caminho do nobre metal
Pavio de fogo e fé
Da luta contra o marechal
Aos dribles na vida, Mané
Folia de todos os reis
E o samba desabrochando em flor
Nas cores do pintor
Querem pemba, querem guia
Querem figa de guiné
Axé, Magé!
Sinfonia de tambores
Hoje a gira vai girar
Ê mojúbá, ê mojúbá
Após dois dias de grandes desfiles na Marquês de Sapucaí, a grande campeã do Carnaval 2018 da Série A será conhecida nesta quarta-feira (14). A apuração acontece após a divulgação dos resultados do Grupo Especial, na Praça da Apoteose.
A ordem de leitura dos quesitos será sorteada durante a tarde e divulgada aqui neste site.
Antonio Alexandre, Magé|Online.com
